Flamengo encontra o resultado mas tem longo caminho rumo à consistência
Caprichos do futebol. Foi justamente da grande dificuldade que o Flamengo tinha no primeiro tempo que surgiu o gol, responsável por abrir o caminho da vitória sobre o América-MG. Lidar com a tentativa de pressão ofensiva do time mineiro era um problema para os rubro-negros. Sem tantas alternativas de saída de bola, o time recorria a passes longos, sem tanto sucesso. Até que Santos achou Pedro, e este achou Gabigol. Nem foi preciso que Pedro ganhasse o duelo aéreo, bastaram a disputa física e o giro de corpo para que ele clareasse o lance. O fato é que, sem Bruno Henrique, é difícil o Flamengo encontrar em outro jogador do elenco a capacidade de resolver situações quando a equipe tem dificuldade de sair de trás.
Não era apenas a saída de bola desde a defesa que não funcionava tão bem no rubro-negro. Mas é possível começar a avaliar os 3 a 0 de sábado pelos sinais mais positivos. No primeiro, as mudanças de escalação conduziram a um 4-4-2 em que Arrascaeta quase dividia com Andreas Pereira as funções de meia, tendo Pedro e Gabigol mais à frente. Diante da dificuldade de gerar profundidade na derrota para o Atlético-MG, o Flamengo desta vez concentrava mais jogadores pelo centro e deixava o corredor para laterais com mais ultrapassagem. Ayrton era um pouco mais contido, mas Rodinei foi constantemente acionado pela direita.
No jogo com bola no chão, o time tentava combinações pelo centro, mas os movimentos ainda não parecem tão coordenados. Outra vez, a equipe de Dorival tinha uma formação e um sistema novos. Ainda assim, o time pressionou melhor na frente e fez a bola andar com mais rapidez.
A vantagem conseguida pelo rubro-negro antes do intervalo fez o América-MG se abrir de forma generosa na etapa final. Com Arrascaeta definitivamente fixado como um “camisa 10” por trás de Pedro e Gabigol, o Flamengo, aí sim, encontrou contragolpes em escala quase industrial. A rigor, o que mudara era o contexto do jogo: havia espaço de sobra numa partida mais aberta. O time de Dorival Júnior precisou de apenas 20 minutos para igualar as nove finalizações do primeiro empo, perdeu chances de transformar a vitória em goleada e seguiu finalizando mesmo após as trocas. Uma delas, a saída de Gabigol, novo foco de atrito num clube especializado em fabricar suas próprias crises.
No Brasil, é preciso pouco para a arquibancada se voltar contra o campo, ainda que o alvo seja o artilheiro responsável por gols históricos. O pavio é curto. E a reação de Gabigol, com certo ar de deboche, tampouco ajuda a contornar a situação. Para a plateia, a vida do atacante tem distrações em excesso. Ele, por sua vez, comemorou o gol simulando uma delas: fez todo o gestual de um cantor num palco. É impossível decretar em que medida o extracampo influi no desempenho. A única avaliação segura é dizer que Gabigol, sob o ponto de vista técnico, já viveu momentos melhores.
De volta ao jogo, se o Flamengo do primeiro tempo teve enorme dificuldade quando precisou construir desde a defesa, o time da segunda etapa agravou um problema recente: quando marca a partir de um 4-3-3, oferece muito espaço pelos lados. Primeiro, pela dificuldade de os três meias cobrirem toda a largura do campo. Além disso, se no primeiro tempo Arrascaeta por vezes recompunha pela esquerda, na segunda etapa era comum ver o uruguaio, Gabigol e Pedro desconectados do jogo após a perda da bola. O Flamengo defendia com sete homens, chegou a flertar com o risco de sofrer o empate e viu um gol do América-MG ser anulado corretamente. Os mineiros finalizaram dez vezes apenas na etapa final.
Mas como o rival também defendia mal, a qualidade técnica terminou por se impor. Arrascaeta fez o segundo gol e Marinho, numa jogada tipicamente dele, fechou o placar. O Flamengo se colocou numa posição menos desconfortável na tabela, mas tem longo caminho em busca da consistência.
Fonte: GE
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